Após quatro meses em execução pelo Comitê Guandu-RJ e parceiros, a Campanha Fiscal das Queimadas de 2014 chega ao fim com mais 281 mil visualizações nos vídeos de alerta contra os incêndios florestais. No entanto, o momento ainda é de preocupação mesmo depois do fim do inverno, considerado o período mais seco e com alto risco de fogo em vegetação. A campanha é só uma das iniciativas do Comitê pela proteção e restauração da Mata Atlântica, que representa 17% da cobertura florestal do estado do Rio.
A previsão, segundo meteorologistas, é que a primavera também seja marcada por temperaturas acima da média normal, com picos de dois a três graus superiores, variando entre 25 °C e 28 °C. No entanto, as máximas em alguns casos podem chegar a 40 °C, o que somado às chuvas abaixo do esperado para a estação no Rio aumenta o risco da continuidade de queimadas em áreas de vegetação seca.
O Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro mantém-se em alerta após registrar mais de 16 mil casos de incêndios em vegetação entre janeiro e o início de outubro de 2024, números que superam todo o ano de 2023, quando foram 13.595.
Ao longo da Campanha Fiscal das Queimadas, junto de outras instituições que atuam na preservação do meio ambiente na Região Hidrográfica II, na bacia dos rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim, o Comitê divulgou vários vídeos e outras mídias com alertas para reforçar a sua luta pela preservação da Mata Atlântica, indispensável à segurança hídrica. Entre os parceiros estiveram a Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A (NUCLEP), Embrapa Agrobiologia e prefeituras da região.
A participação também da comunidade e das novas gerações foi outro foco do Comitê. Exemplo disso é o morador de Nova Iguaçu, Alexandre Bensabat Filho, o Xandinho, de 10 anos, que planta árvores desde os quatro. Com um histórico de mais de três mil árvores plantadas, ele é um dos “Fiscais das Queimadas” e sabe que o trabalho de preservação é tão importante quanto o de reflorestamento e, por isso, abraçou a iniciativa do Colegiado, que abrange não só a terra natal do menino, mas também os outros 14 municípios da RH II.
Em um dos vídeos gravado para a Campanha e pelo Dia da Árvore, Xandinho, mais conhecido como o “Menino que planta”, convocou a todos para abraçarem a “Fiscal da Queimadas” e denunciar os incêndios florestais. “Tem ocorrido várias queimadas e nós temos perdido várias árvores. Eu peço que cada queimada que você veja fiscalize e passe para os órgãos competentes. Inclusive eu sou um Fiscal das Queimadas nomeado pelo Comitê Guandu e tenho responsabilidade de cuidar do meio ambiente das áreas de plantio. Pante hoje para colher amanhã”, destacou Xandinho.
Assim como o “Menino que planta”, vários especialistas deram a sua contribuição à Campanha, inclusive dando dicas. Um dele foi o engenheiro florestal, Pedro Rajão, que atua no Programa Produtores de Água e Floresta (PAF) do Comitê Guandu, integrando a equipe do projeto (Re) Floresta Água e Carbono, em Rio Claro, dentro de uma parceria coma a Petrobras Socioambiental, acompanhada pela Agevap.
“Uma das nossas iniciativas é a restauração florestal e a nossa maior preocupação durante a implementação dos projetos é com o fogo. Pensando nisso, atuamos preventivamente construindo aceiros ao redor dos nossos plantios. Os aceiros são uma faixa de terra sem vegetação. É uma solução tradicional no manejo de áreas para bloquear a passagem do fogo. Nos nossos projetos construímos esses aceiros com 4 a 5 metros de largura e somando todos os projetos do projeto (Re) Floresta já são cerca de 4 mil metros quadrados de aceiro implantado com manutenção trimestral. Até o momento, mesmo com um ano recorde de queimadas e incêndios, no município de Rio Claro não tivemos nenhum dos nossos sete projetos prejudicados pelo fogo”, pontou o engenheiro florestal.
Entretanto, Pedro Rajão fez questão de ressaltar que mesmo que os aceiros estejam funcionando, eles são uma espécie de remédio para o problema do fogo que já está acontecendo. “A gente quer reforçar que o melhor mesmo para todos nós é não promover mais queimadas”, declarou.
O mesmo alertou o porta-voz do Corpo de Bombeiros do RJ, major Fábio Contreras, em uma gravação para a Campanha. “Ao perceber um incêndio em vegetação, acione o mais rápido possível o 193, para que o Corpo de Bombeiros possa o quanto antes atender à sua ocorrência. Os incêndios florestais causam sérios problemas também para o meio ambiente. O solo fica mais pobre, perde a cobertura vegetal e fica mais vulnerável para futuros problemas com chuvas e deslizamentos de terra. A prevenção sempre será o melhor caminho. É dever de todos o cuidado com as nossas matas”, ressaltou.
Além do 193, é possível denunciar as queimadas por meio do Linha Verde, um programa do Disque Denúncia. Os telefones são 0300 253 1177 (para o interior, a custo de ligação local), 2253 1177 (para a capital), ou por meio do aplicativo para celulares “Disque Denúncia RJ”.
Esta foi a terceira edição da Campanha Fiscal das Queimadas, que neste ano foi marcada também por um workshop online realizado pelo Comitê sobre os incêndios florestais e o agravamento das ocorrências desse tipo diante da crise climática. Durante mais de duas horas, especialistas compartilharam suas experiências e motivaram debates na busca por soluções e entendimento sobre o cenário e consequências das queimadas não só na Bacia do Rio Guandu.
Em 2022, o Comitê promoveu a capacitação de profissionais dos municípios para evitar e minimizar danos ocasionados pelo fogo em vegetações e realizou, ainda, a doação de Equipamentos de Proteção Individuas (EPIs) a prefeituras para o combate das queimadas. As ações fazem parte do Plano Associativo de Combate, Prevenção e Mitigação de Incêndios Florestais do Colegiado.