A busca coletiva de iniciativas contra os incêndios florestais e o agravamento das ocorrências desse tipo diante da crise climática foram os temas centrais de um workshop realizado pelo Comitê Guandu-RJ na tarde dessa quarta-feira (28). Durante mais de duas horas, especialistas compartilharam suas experiências e motivaram debates na busca por soluções e entendimento sobre o cenário e consequências das queimadas não só na Bacia do Rio Guandu.
A discussão ocorre em um dos momentos mais críticos no país, inclusive no Rio de Janeiro, que registrou um aumento de 85% nos casos de incêndios em vegetação neste ano, segundo dados levantados pelo Corpo de Bombeiros Militar do estado. Só nos oito primeiros meses de 2024, a corporação já atendeu 6.178 ocorrências a mais do que no mesmo período do ano passado. Com o recorte do dia 1° de janeiro ao dia 23 de agosto, foram 7.417 chamados, contra 13.595 acionamentos entre os mesmos meses de 2023.
Realizado de forma online, o workshop reuniu cerca de 60 participantes, entre eles membros do Comitê Guandu, como o diretor-geral Elton Abel, engenheiro florestal da Cedae. Outros representantes dos 15 municípios da Região Hidrográfica II também marcaram presença. A mediação foi feita pela diretora de Recuperação Ambiental do Colegiado, a doutora em Engenharia de Processos Químicos, Cristiane Siqueira.
A realização do workshop faz parte da Programação Anual de Atividades e Desembolso (PAAD) de 2024 e do Plano Associativo de Combate, Prevenção e Mitigação de Incêndios Florestais, do Comitê Guandu-RJ. A iniciativa se soma a outras do Colegiado, como a Campanha Fiscal das Queimadas, que teve suas ações apresentadas logo no início do encontro.
Além de debates e doação de equipamentos a municípios para ajudar no combate às queimadas, o Comitê já recuperou e conservou mais de cinco mil hectares da Mata Atlântica nos últimos anos por meio Programa Produtores de Água e Floresta (PAF).
Após uma rápida apresentação dessas iniciativas, o workshop prosseguiu com as palestras dos especialistas. O primeiro a falar foi o cientista ambiental e doutorando em Dinâmica dos Oceanos e da Terra, Marcos Felipe Almeida Mota, seguido pelo gestor da Floresta Nacional Mario Xavier (Flona), em Seropédica, Ricardo Nogueira, que também é geógrafo e mestre em Geografia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O último a se apresentar, antes da abertura de perguntas aos participantes, foi o chefe do Núcleo de Defesa Florestal, o major Bombeiro Militar Israel de Andrade Lima, coordenador da Operação Fumaça Zero, que é realizada pelo Inea no Rio de Janeiro.
Todos os especialistas alertaram não só para o fato de as mudanças ambientais e climáticas estarem imprimindo características desafiadoras aos incêndios, potencializados por tempos de extremo calor e seca, mas também para as atitudes irresponsáveis das pessoas que provocam a grande maioria das queimadas. Por isso, a mudança de hábitos é necessária, principalmente nas áreas que ficam próximas a florestas e reservas.
O cientista Marcos Felipe apresentou informações de como a destruição dos ecossistemas por meio dos incêndios florestais têm alto potencial para diminuir a qualidade da água da Bacia Hidrográfica do Rio Guandu.
“São bastantes complicações de poluentes que são emitidos no incêndio florestal, desde o que a gente falou de mudança do sabor e do odor da água, até mesmo substâncias cancerígenas, que são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HAPs). Vou deixar essa bola levantada até para outras reuniões, workshops, que vão estar previstos, porque é um assunto bem polêmico, que está aumentando, ficando cada vez mais crítico no Brasil e no mundo”, alertou o cientista.
O gestor da Flona, Ricardo Nogueira, apresentou as potencialidades da unidade de conservação e os conflitos ambientais com ênfase na dinâmica dos incêndios florestal, mostrando as dificuldades para lidar com as queimadas, principalmente por ser uma floresta urbana. Ele também ressaltou a importância da integração promovida pelo Comitê Guandu por meio de encontros como o realizado nessa quarta.
“Por meio do workshop já surgiu a proposta de uma parceria com o Replantado Vida da Cedae para fazer um projeto de reposição nos 250 hectares, que eu mostrei na minha apresentação. A gente já está articulando isso. É assim que as coisas acontecem”, destacou Ricardo Nogueira, que foi técnico Jr do Comitê entre 2006 a 2010, quando a temática queimadas avançou nas ações previstas no Plano de Bacia. “Esse debate é a prova de que a semente plantada, cresce e dá bons frutos”, completou.
A operação Fumaça Zero também ganhou destaque. Segundo o coordenador Israel Andrade, o Instituto Estadual do Ambiente vem intensificando ações e iniciou, por meio da Fumaça Zero, a Semana D focada em fiscalizações ambientais e vistorias nas unidades de conservação atingidas pelo fogo. Ainda segundo ele, a intenção é conscientizar o maior número de pessoas e também levantar dados para responsabilizar os possíveis causadores de incêndios. Aproveitando a expressiva presença de representantes dos municípios no workshop, ele pediu a colaboração de todos.
“Pedimos que no pós-incêndio vocês elaborem os relatórios para levantar uma base de dados nos incêndios ocorridos neste período para que possamos identificar os possíveis infratores causadores, e motivar, através do contato que nós temos prévio com a Delegacia de Proteção Ambiental e outras delegacias locais, a abertura de inquéritos”, solicitou o major.
Propostas para investimentos e de um novo
Os participantes do workshop defenderam que o manejo integrado do fogo, planejamento, prevenção e combate devem ser reconhecidos com a mesma importância da restauração florestal. Sugestões também foram dadas para tentar medidas mais eficazes na identificação dos incêndios e combates, inclusive com o uso da tecnologia e a necessidade de aporte financeiros para isso.
Aproveitando esse gancho, a diretora de Recuperação Ambiental do Comitê, Cristiane Siqueira, ressaltou que a proposta do workshop, surgida nas câmaras técnicas, é também para o Comitê fazer uma análise de como pode futuramente trabalhar em cima dessas questões, para além das ações que já faz.
“Todos esses apontamentos feitos no workshop vão gerar um relatório, que será levado novamente às câmaras técnicas para a gente poder pensar nas possibilidades de como contribuir com essas ações, principalmente nessa questão do suporte financeiro ao desenvolvimento de novas tecnologias na evolução do combate e principalmente na prevenção dos incêndios florestais”, disse Cristiane Siqueira.
A diretora agradeceu a presença de todos e destacou, ainda, a qualidade técnica do encontro, anunciando que os temas propostos durante o debate vão contribuir para um segundo workshop, já previsto em relação ao tema. “Como eu disse, esses debates vão continuar nos grupos da Câmara Técnica de Estudos Gerais e de Estudos de Infraestrutura Verde”, finalizou.
Quem perdeu o primeiro workshop, pode acompanhar o que foi apresentado no canal no YouTube do Comitê Guandu no link abaixo. Por um problema técnico, o áudio apresentou falha, sendo estabilizado aos 33 minutos da gravação.
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