Uso de biodigestores é uma das soluções individuais aplicadas no maior programa de saneamento rural, realizado pelo Comitê Guandu e parceiros

Água é saúde, é dignidade. É em busca disso que o Comitê Guandu aproveita este Dia Mundial da Água (22/03) para destacar o Sanear Guandu, maior projeto de execução de obras de esgotamento em áreas não urbanas do país. Garantindo a milhares de famílias o acesso a recursos hídricos mais seguros, o programa já investiu, em um ano, cerca de R$ 18 milhões em obras, inclusive, com a instalação gratuita de biodigestores.

Além de proteger rios e outros mananciais do despejo de dejetos domésticos, o programa do Comitê Guandu com parceiros almeja também a proteção da saúde pública e a qualidade ambiental para toda a região contemplada.

Para o Colegiado, é um passo estratégico e importante, pois atenderá o processo de universalização do saneamento na Região Hidrográfica II (RH II), fundamental para o Rio de Janeiro, responsável pelo abastecimento de mais de 10 milhões de pessoas na região metropolitana.

Nesta etapa do programa Sanear Guandu serão beneficiadas cerca de 43.679 habitantes com um investimento de R$55.761.919,35 (recurso proveniente da cobrança pelo uso dos recursos hídricos) com a implementação de soluções coletivas e individuais, totalizando 25 Estações de Tratamento de Esgotos, 5.442 metros de rede coletora de esgotos e 6724 módulos de soluções individuais, distribuídas em 11 municípios abrangidos pelo Comitê Guandu-RJ (Japeri, Mendes, Nova Iguaçu, Paracambi, Piraí, Queimados, Itaguaí, Mangaratiba, Rio Claro, Rio de Janeiro e Seropédica).

No último levantamento, considerando todas as instalações realizada até fevereiro/2023, constatou-se que foram instaladas mais de 1400 soluções individuais, entre eles os biodigestores, que já estão em pleno funcionamento, garantindo o tratamento do esgoto das famílias beneficiadas.

“Essa estratégia visa a qualidade não só para o ecossistema, como também para as famílias que não têm acesso ao esgotamento sanitário, evitando a proliferação de doenças de veiculação hídrica e uma série de malefícios que a falta de saneamento traz para a população, como a proliferação de vetores e a poluição dos corpos hídricos e do solo”, comentou o engenheiro da Gerenciadora Consórcio Guandu, Marcos Filgueiras Jorge, da equipe que gerencia e fiscaliza as obras do Sanear Guandu.

São atendidos bairros mais isolados e áreas rurais que não receberam a rede principal coletora. Em muitos casos, o esgoto era jogado em leitos ou tinha contato direto com o solo e o lençol freático. Uma constatação das equipes que trabalham no Sanear era a proximidade que muitas vezes tinha entre o local de despejo dos dejetos com o de captação de água, como poços e cacimbas.

“Nas localidades em que o adensamento das famílias é muito reduzido e não se justifica o investimento em uma solução coletiva, foram definidas as soluções individuais, em que cada beneficiário recebe um módulo especialmente projetado, composto por tratamento primário, com o secundário e mais um emissário, através de uma fossa biodigestora que deságua em um círculo de bananeiras, ou um sumidouro ou em um corpo receptor (curso d’água, vala de drenagem ou galeria de água pluvial)”, explicou Marcos.

Municípios comemoram avanços

Em Japeri, a Região de São Pedro é a primeira a ser contemplada com as instalações, que se encontram em andamento. A região rural não possui tratamento de esgoto e a instalação dos biodigestores melhora não só a questão da disposição do esgoto nos rios, como também o bem-estar e qualidade de vida da população.

“O Sanear Guandu é de extrema importância para a saúde da população e para o meio ambiente. Através de biodigestores, o efluente doméstico é tratado e o seu descarte pode ser feito de maneira correta, evitando a poluição dos corpos hídricos. Deste modo, a implantação do projeto tem contribuído para a preservação da biodiversidade local. Assim como os avanços ambientais, o saneamento básico contribui diretamente para a prevenção de doenças, como as infecções gastrointestinais”, declarou a Secretária Municipal do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e gestora Ambiental, Meire Lucy Fonseca Menezes dos Santos.

No município de Queimados, por exemplo, o projeto atenderá cinco localidades, cujas obras também estão em andamento. “Queimados terá 600 biodigestores instalados. Não vamos ter coletivos sanitários, apenas o individual que significa que cada residência vai receber um biodigestor ou dependendo da produção de esgoto, dois biodigestores. Estamos numa bacia hidrográfica, dentro do Plano de Bacia, Queimados está na unidade de Planejamento 6, que é prioritária para o saneamento básico. O Programa Sanear, vai melhorar as condições da Lagoa do Guandu para coleta de água e consequentemente o tratamento”, afirmou Andréa Loureiro, engenheira florestal e secretária de Meio Ambiente e Direito dos Animais, que também é diretora-executiva do Comitê Guandu.

O Sanear é um programa do Comitê Guandu, desenvolvido em parceria com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), com operacionalização da Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP).

Paralelamente a esta primeira fase do Sanear, além dos 11 municípios que tiveram as obras licitadas pela AGEVAP, mais duas licitações têm sido preparadas para a execução de 1646 e 1055 soluções individuais, para os municípios de Engenheiro Paulo de Frontin e Miguel Pereira, respectivamente, que tem início previsto para 2023.

“Ao final do projeto está previsto o atendimento de cerca de 43 mil pessoas em toda a área contemplada, totalizando cerca de 7 milhões de litros de esgoto que deixarão de ser dispostos sem tratamento nos corpos hídricos por dia”, disse o coordenador da Engeplus, Marcos Filgueiras.

Para a diretora-geral do Comitê Guandu e engenheira ambiental da CEDAE, Mayná Coutinho, é um orgulho falar do maior programa de saneamento rural do Brasil. “Temos a preocupação com a qualidade da água, por isso, além da parceria do Governo do Estado, temos o apoio fortíssimo também dos municípios. Temos uma população em situação de vulnerabilidade social, então com a água, você leva educação ambiental, preocupação dos rios e sentimento de pertencimento desses recursos naturais, o engajamento dos moradores é importante”, avaliou.

Dado para infográfico:

*Como funciona um biodigestor?

O biodigestor é uma solução para o tratamento do esgoto doméstico, que reúne os processos de fossa séptica e filtro anaeróbio em um único produto. Sua instalação é simplificada e sua manutenção dispensa a utilização de caminhão limpa-fossa.

Seu funcionamento se dá conforme ilustrado na Figura 1). O esgoto sanitário entra pela tubulação (1) e é levado até a parte inferior do biodigestor (2), onde fica acumulado.

A parte sólida do esgoto se separa da líquida e sedimenta no fundo cônico, onde inicia o processo de digestão biológica através da ação dos microrganismos naturalmente presentes no esgoto.

Já a parte líquida restante infiltra no cesto interno (3) onde entra em contato com o material filtrante (4), que faz a função do filtro anaeróbio e retentor de sólidos.

O efluente é finalmente coletado pela calha interna é liberado pela tubulação de saída (5) para ser levado até o correto destino final (sumidouro, vala de infiltração, canal de drenagem, dentre outros).

O lodo (6) – parte mais sólida – fica acumulado no fundo cônico do biodigestor e deve ser retirado para o leito de secagem (8) na manutenção periódica. Para a extração do lodo o usuário deve efetuar a abertura do registro (7).

Figura 1) Modelo esquematizado de um biodigestor

            *Dicas para o bom funcionamento:

Para que seja garantido o bom funcionamento do biodigestor, é necessário que o usuário tome alguns cuidados, conforme segue:

  1. Realizar a limpeza da caixa de gordura pelo menos a cada 6 meses;
  2. Realizar a manutenção do Biodigestor, removendo o lodo a cada 12, podendo estender-se até 18 meses, no máximo;
    1. O lodo removido deverá ser colocado no leito de secagem por cerca de 3 a 6 meses e, após esse período, o lodo seco poderá ser acondicionado em sacos plásticos e descartado como lixo comum.
  3. Evitar de descartar no vaso sanitário ou ralos da casa os seguintes materiais: óleo de cozinha, fio dental, restos de comida, papel, produtos químicos, cotonete, fio de cabelo, dentre outros.