“Acho que o produtor rural, antes de produzir qualquer coisa na sua terra, primeiro tem que produzir água, e o verde só agrega mais valor a isso”. Neste Dia da Árvore (21), é protagonizando discursos como o do produtor rural José Ricardo de Souza, de Rio Claro, que o Programa Produtores de Água e Floresta (PAF), do Comitê Guandu-RJ, faz valer cada uma das milhares de árvores plantadas e preservadas na Região Hidrográfica II (RH II). Com 16 anos de criação, o PAF já avança a um novo ciclo envolvendo mais 125 propriedades habilitadas por meio de um edital. Juntas, elas protegerão aproximadamente 200 nascentes, implementando práticas de conservação, restauração e conversão produtiva.

Os resultados projetados com o novo ciclo, promovido mais uma vez pelo Comitê e realizado pela Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP), se somarão aos números já conquistados pelo PAF na bacia do Rio Guandu. Com o programa, já foram conservados cerca de 5.000 hectares, reflorestados quase 300 hectares e sequestradas 85 mil toneladas de carbono. Além dos ganhos ambientais, a iniciativa proporcionou, em mais de 130 contratos assinados desde sua criação, o repasse R$ 3 milhões em Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) a proprietários rurais que adotaram práticas de conservação do solo e da água.

“A aplicação de recursos na agenda de infraestrutura verde do Comitê Guandu com o PAF é sem dúvida um exemplo de sucesso que visa a preservação e recuperação da cobertura vegetal nas cabeceiras, o que tem contribuído por vários anos para melhorar a quantidade e qualidade de água na nossa região hidrográfica. Cada árvore mantida de pé ou plantada é primordial para continuarmos avançando ao lado dos municípios”, destacou destacou o diretor executivo do Comitê Guandu, Antoni Felipe Oliveira, que representa a Secretaria de Ambiente e Defesa dos Animais de Queimados no Colegiado.

Financiado com recursos da cobrança pelo uso da água, o novo ciclo do PAF vai beneficiar produtores rurais dos municípios fluminenses de Rio Claro, Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin, Miguel Pereira, Vassouras. Eles poderão ser beneficiados com o PSA Anual, que remunera pela conservação de áreas naturais e pela restauração florestal, seja ela ativa ou passiva; e o PSA Apoio Financeiro, que incentiva a conversão produtiva por meio da adoção de boas práticas agrícolas. Algumas das estratégias do programa que transformam cada propriedade em um ponto de resistência ambiental são os Sistemas Agroflorestais, manejo sustentável de florestas nativas e cercamento de nascentes.

Uma das nascentes do Rio Guandu está justamente no Sítio Cachoeira, em Macundu – Rio Claro, do produtor rural José Ricardo de Souza, que ressalta a importância de participar da PAF.

“Quando pequeno, não tinha muito conhecimento da importância da nossa água para todo o Rio de Janeiro. Hoje, sabemos que parte dela abastece o estado tanto para consumo quanto para fornecimento de energia elétrica. Conheci o PAF quando estive em Lídice e, através da Emater. Acredito que o programa vai me ajudar a alavancar ações que já vínhamos fazendo devagarinho, como cercar as nascentes de água e os cuidados que devemos ter com as matas justamente para proteger também as águas. Uma propriedade sem água, não vale nada. As áreas verdes de preservação só agregam mais valor a isso e ajudam a produzir água”, comentou José Ricardo, filho e neto de produtores rurais, revelando que o vínculo de uma vida inteira com a terra não se mede em hectares, mas em histórias, memórias e cuidado.

O gestor do PAF, o biólogo Gabriel dos Santos Aguiar, pontua que em um cenário global marcado por secas prolongadas, rios cada vez mais poluídos e temperaturas em constante elevação, o programa se afirma como uma das maiores iniciativas de combate e adaptação às mudanças climáticas no estado do Rio de Janeiro. Além disso, o PAF fortalece o vínculo com o produtor rural e contribui diretamente com políticas públicas, buscando a aproximação com sindicatos rurais, parceria com secretarias e instituições, e Regularização Fundiária.

O biólogo explica que o primeiro passo para participar do PAF, muitas vezes é também o primeiro passo para a regularização legal da propriedade. Neste novo ciclo, das 125 propriedades habilitadas, 42 tiveram o CAR regularizado com a ajuda da equipe técnica do programa, que agora avança na assinatura dos contratos. Entre os principais desafios deste ciclo do PAF que se inicia, está a implementação de novas alternativas de lida com a terra, pelos próprios produtores rurais.

“Com o PAF, que oferecerá assistência técnica e apoio financeiro, valorizamos o produtor rural, que é a pessoa que lida com a terra para garantir o seu sustento, mas que tem a responsabilidade de proteger os mananciais. Eu espero que, nos próximos anos, as ações do PAF ganhem escala, se tornem políticas públicas e tragam cada vez mais alternativas para que o produtor rural realize o manejo da terra com viabilidade econômica, sem deixar de proteger o solo, para que a gente possa ter água em quantidade e qualidade”, destacou Gabriel.

O PAF está diretamente alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente o ODS 6 Água Potável e Saneamento, ODS 8 Crescimento Econômico Sustentável, ODS 13 Ação contra a Mudança Global do Clima e ODS 15 Vida Terrestre.

“Ao incentivar práticas que conciliam produção e conservação, o programa mostra que desenvolvimento e preservação precisam caminhar juntos. O programa mostra na prática que conservação também é sinônimo de desenvolvimento econômico, garantindo mais renda para os produtores rurais sem perder a produtividade”, concluiu o gestor.