O verde da copa das árvores se espalha a perder de vista na Fazenda Pinheiros, no distrito de Lídice, em Rio Claro, na região do Comitê Guandu. Da propriedade da família Magalhães, vem um dos vários exemplos de recuperação e preservação de áreas por meio do reflorestamento, que garantem a produção de água por mais de uma década.

Neste 22 de março, data em que se comemora o Dia Mundial da Água, o Comitê Guandu mostra na prática como o incentivo à sustentabilidade já mudou a realidade de mais de 5000 hectares de Mata Atlântica com o programa Produtores de Água e Floresta (PAF).

Na Fazenda Pinheiros, 67,23 hectares foram restaurados e outros 261,28 conservados desde 2012, o que representa uma das maiores áreas já recuperadas na região até agora.

Os resultados são percebidos não só na recuperação do solo, antes destinado somente à pastagem para a pecuária, mas também na abundância de água em duas cachoeiras dentro da propriedade, a da Borboleta e a Três Quedas.  As duas são formadas pelo Rio Parado, que deságua no Rio Piraí, sendo este responsável por parte do abastecimento do sistema Guandu.

Para o produtor rural Daniel Magalhães, de 38 anos, um dos três proprietários da fazenda, que já está sob o comando da terceira geração da família, o PAF apresenta uma dupla importância para os proprietários.

“A questão da recomposição de matas ciliares é importante demais para as Áreas de Preservação Permanente (APP), que promovem a conservação do solo e da água, bem como a conexão de diversos fragmentos de matas que existiam na propriedade. Trazem benefícios já amplamente conhecidos para a biodiversidade”, destacou o produtor, que é também engenheiro agrônomo.

Com a chegada do PAF, Daniel viu a possibilidade de ampliar a preservação ambiental na propriedade da família. 

“Felizmente, antes da chegada do PAF, já havia uma conscientização ambiental, até pela minha formação profissional como engenheiro agrônomo. Fiquei extremamente contente com a possibilidade de participar desse projeto”, afirmou.

Idealizado e desenvolvido pelo Comitê Guandu desde 2009, o PAF é um dos primeiros projetos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Brasil, e uma referência para o colegiado, que completará, no dia 3 do próximo mês, 20 anos de serviços prestados à proteção dos recursos hídricos das bacias dos rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim.

Além de preservar o meio ambiente, os produtores rurais que fazem parte do PAF já receberam mais de RS 2,7 milhões em retribuição aos serviços ambientais (PSA). Isso sem contar, o aumento da renda familiar a partir de uma produção amparada por orientações técnicas e sustentáveis.

“Tais investimento na recomposição florestal é extremamente oneroso do ponto de vista financeiro e complexo do ponto de vista técnico, tornando difícil para o produtor rural arcar com todos esses ônus. Além da concientização ambiental, a remuneração do serviço ambiental prestado pela propriedade foi e é fator muito importante para a consolidação e sucesso do projeto. Acaba com uma mentalidade do século passado, contrapondo conservação ambiental e produção agrícola/fonte de renda”, finalizou Daniel Magalhães.

Atualmente, a pastagem destinada à criação de gado leiteiro e de corte divide espaço com as áreas de conservação e plantio do PAF, além de hortas e a cultura do feijão.

Produtividade aliada à sustentabilidade

A partir de 2018, o programa que começou em Rio Claro, se expandiu aos municípios Engenheiro Paulo de Frontin, Vassouras e Mendes. Neste último, o Comitê ampliou a sua atuação com os Sistemas Agroflorestais (SAFs), que alia produtividade e sustentabilidade, utilizando de espécies florestais e cultivos agrícolas.

Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), juntamente com a Agevap e a ONG Crescente Fértil, foram projetadas quatro Unidades Demonstrativas de SAFs em propriedades rurais na área do PAF Sacra Família, em Mendes. A agroecologia vem se destacando com a produção de alimentos orgânicos, por exemplo. 

De acordo com o gestor do programa de Produtores de Água e Floresta, Leandro Barros Oliveira, especialista em Recursos Hídricos da Agevap, os Sistemas Agroflorestais buscam um plantio consorciado de espécies vegetais nativas e espécies para exploração econômica e/ou subsistência, porém através de boas práticas que otimizam o uso da terra e controlam os fatores de degradação ambiental.

“Nesse tipo de cultivo, o produtor usa práticas conservacionistas de manejo do solo e da água. Temos uma melhoria da qualidade físico-química do solo. Favorece a infiltração da água, impactando positivamente os mananciais. Nos nossos SAFs, temos espécies para alimentação, além de outras que não são necessariamente nativas da Mata Atlântica, mas que ajudam na estruturação do solo, como crotalária, o feijão de porco e o guandu”, destacou Leandro Oliveira.

O PAF é um dos projetos de maior longevidade dentre as ações executadas dentro da agenda de infraestrutura verde do Comitê, na qual estão sendo desenvolvidos também os Planos Municipais da Mata Atlântica e o Plano Diretor Florestal.

Soma-se à essas iniciativas ações da agenda de saneamento, como os projetos básicos e executivos de esgotamento sanitário rural, com as melhores soluções ambientais e econômicas para o esgoto das áreas rurais e periurbanas, já em execução em municípios da região.