No último mês, o Comitê Guandu completou 20 anos de existência. Por isso, Ana Asti foi a escolhida desse mês para a seção “Entrevista do Mês”, que está presente na newsletter “Ações de Abril”, que já está disponível no site do Comitê. Ana é a Subsecretária Estadual de Recursos Hídricos e diretora executiva do Comitê.
Na entrevista, Asti fala sobre sua relação com o colegiado, e sua conexão com o meio-ambiente.
– Em que momento e o que te incentivou a se juntar ao colegiado?
Quando eu assumi a subsecretaria de Recursos Hídricos e Sustentabilidade na Secretaria de Estado de Ambiente, no meu segundo dia eu visitei a ETA – Guandu (Estação de Tratamento de Água do Guandu), e fiz um sobrevôo na região. Nós voamos sobre a lagoa do Guandu e sobre o rio Queimados, e me doeu muito ver o rio Queimados com aquela água escura, preta. Isso me impactou muito. E a partir daquela visão que eu tive, aquela vista privilegiada de ver do alto, pra mim aquilo virou uma missão. De realmente estancar toda a poluição que chega naquele manancial, naquela lagoa incrível, que abastece mais de 10 milhões de habitantes. E nós vínhamos sofrendo muito, com toda aquela questão das algas e da geosmina, então, pra mim, a partir daquele momento, poder atuar e fazer a diferença para garantir a renovação e a despoluição daquele ecossistema virou uma missão mesmo. E quando eu tive a oportunidade, quando foram abertas as inscrições pro Guandu, e eu vi que eu podia participar da diretoria, eu fiquei muito contente de poder realmente atuar de forma direta e completa nessa missão. Então é isso, pra mim, a despoluição do Guandu é realmente uma missão.
– O que o Comitê representa pra você?
Para mim, a melhor forma de resumir é o Parlamento das Águas. Eu acho que é a democracia acontecendo de fato. Você tem os diferentes setores. Você tem os usuários, a sociedade civil organizada e o poder público seja através dos municípios ou do próprio Estado. Todos atuando de forma coesa, lidando de forma direta com tomadas de decisão que são importantes para garantir a melhoria na qualidade do manancial para todos, para toda a sociedade. Resumindo, pra mim, o Comitê é o Parlamento das Águas, o espaço de debates. E eu fico muito feliz de poder fazer parte dessa história.
– Por que a existência do Comitê Guandu é tão importante para a conservação da bacia?
Eu acho que tem muito a ver com o que eu falei na resposta anterior. Por ele ser um espaço de escuta e de tomada de decisão sobre investimentos para a melhoria da bacia. Um lugar que inclui, não só o poder público, mas também toda a sociedade civil e inclui os usuários de água da bacia. Eu acredito que isso faz dele, da bacia do Guandu e de todo sistema de recursos hídricos no Brasil, algo extremamente inovador e democrático. Então esse espaço de escuta e de tomada de decisão conjunta é fundamental para que possamos construir algo que é para toda a sociedade. E o sistema de recursos hídricos, da forma que ele está organizado hoje no Brasil, promove essa escuta e democracia na tomada de decisão compartilhada.
– Passamos por um momento em que a conservação do meio ambiente se prova cada vez mais importante, como você vê as ações tomadas pelo comitê em prol da preservação no passado, atualmente e no futuro?
Eu acho que o Comitê, desde que nasceu, 20 anos atrás, já era uma política pública de meio ambiente e de sustentabilidade. Além de desenvolvimento sustentável por que ele agrega também a questão dos usuários e de todo o desenvolvimento econômico que acontece na bacia. Então, pra mim, o Comitê já é um sinal da importância da política de meio ambiente acontecendo de fato no território, com foco no território. Isso faz muita diferença porque são os atores do território que acabam tomando decisões e debatendo o futuro daquele território. E eu acredito que isso seja algo muito característico de um Comitê de Bacia quando você tem um olhar não só do Município, do Estado mas também do território bacia hidrográfica. E esse território é importante, a fronteira das águas é diferente das fronteiras geopolíticas. Então a gente precisa trabalhar quando formos falar de água, dos nossos recursos hídricos que são fundamentais para a vida. A gente precisa trabalhar dentro das perspectivas das bacias hidrográficas, sejam elas federais ou estaduais.
– Qual seu maior desafio como membro do comitê?
Boa pergunta, por que são tantos desafios. É tão difícil escolher um para ser o maior. Mas eu acho que um grande desafio é encontrarmos coesão e consenso. Mas esse é um desafio natural, ele faz parte da tomada de decisões compartilhadas, faz parte do processo democrático de escuta e de compartilhamento de visões. Cada um tem uma visão específica e precisamos sempre respeitar todos os lados e entendê-los, para que possamos efetivamente construir um ecossistema e um território que seja bom para todos. Eu acho que esse é um grande desafio, buscar esse consenso, esse entendimento comum. Mas esse é um desafio que existe em todos os espaços e atuação em que estamos, na família, em casa, no trabalho, no Comitê Guandu, não tem jeito.
Do ponto de vista do ecossistema em si, o grande desafio é a despoluição, o saneamento. E acho que estamos construindo um futuro muito positivo em relação a isso. Tanto do ponto de vista das ações que já estão sendo realizadas pelo próprio Comitê, nesse sentido, assim como do ponto de vista do saneamento, que vai vir através da concessão. Então a concessão acaba sendo um fator fundamental para podermos garantir o saneamento que é realmente a verdadeira solução de longo prazo para a despoluição da lagoa do Guandu e em todo o Estado