Patrimônio nacional reconhecido pela Constituição Brasileira e protegida por uma lei especial, a Mata Atlântica tem o dia 27 de maio como uma data especial para alertar sobre a sua importância e preservação. É colocando este bioma no local de protagonismo que ele tem para a segurança hídrica, contra a crise climática e o efeito estufa, que o Comitê Guandu-RJ vem a cada ano direcionando mais ações e investimentos ao programa Produtores de Águas e Florestas (PAF), que ganhou nova vertente com o fomento à pesquisa em usos do solo, recursos hídricos e modelagem de estoque de carbono.

Um dos biomas mais ricos em biodiversidade, a Mata Atlântica também é uma das mais ameaçadas do planeta. Dados observados pela Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre os meses de outubro de 2021 e de 2022, revelam o desflorestamento de 20.075 hectares (ha) do bioma, o correspondente a mais de 20 mil campos de futebol de futebol em um ano. Como resultado, foram lançados 9,6 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) equivalente na atmosfera.

O Rio de Janeiro encontra-se inserido nesse bioma, sendo que hoje seus remanescentes ocupam cerca de 17% da área total do estado, computando-se os diversos ecossistemas associados à Mata Atlântica.

Quando se trata da Região Hidrográfica II, formada principalmente pelos rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim, aproximadamente 45% do total do território, está representado pela cobertura de floresta de Mata Atlântica, no total de 15 municípios das regiões Metropolitana, Baixada Fluminense, Centro Sul e Médio Paraíba.

O dado foi revelado pelo projeto Integra Guandu, responsável pela elaboração de 12 Planos Municipais de Mata Atlântica (PMMAs), financiados pelo Comitê, executado pelo Consórcio STCP/Mater Natura (2022), que fez um levantamento sobre as diferentes atividades de uso do solo que ocorrem no território da RH II. Os dados foram obtidos com base no Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea), e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foram complementados e atualizados através da análise imagens de satélite de alta resolução.

De acordo com estudos do Comitê Guandu, realizados em 2018, as porções florestais mais expressivas na RH II, em termos de área ocupada, cobrem as escarpas ou encostas serranas, montanhas, morros e terrenos íngremes serranos de difícil acesso. Assim, a concentração dessas porções de florestas forma corredores de Mata Atlântica.

É em busca de ampliar cada vez essa cobertura vegetal que o PAF, idealizado e mantido financeiramente pelo Comitê Guandu desde 2009, já mudou a realidade de mais de 5.000 hectares de Mata Atlântica, aumentando a cobertura florestal e contribuindo para melhoria da qualidade e regularização da produção de água na bacia que abastece nove milhões de pessoas no estado do Rio de Janeiro. Com o programa, já são cerca de R$ 2,7 milhões repassados a mais de 100 produtores por meio do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).

Dentro das projeções do Comitê, está previsto um novo ciclo do PAF com o lançamento do edital de seleção dos produtores a serem beneficiados com o Pagamento por Serviços Ambientais, tendo como meta a conservação de 800 hectares, outros 100 hectares de restauração florestal, e mais 50 hectares de conversão produtiva.

O sucesso do programa tem atraído cada vez mais parceiros, inclusive diante do reconhecimento internacional da iniciativa, como é o caso do Programa Petrobras Socioambiental com o projeto (Re) floresta, Água e Carbono, desenvolvido pela Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP) e que trouxe ao PAF, a partir deste ano, mais uma vertente socioambiental. Estão previstas ações voltadas para a educação ambiental, capacitação técnica, fomento à pesquisa e ao desenvolvimento de potencialidades socioeconômicas locais, no município de Rio Claro-RJ, justamente onde nasceu o programa do Comitê.

O projeto, já conhecido como PAF (Re) floresta, já tem atuado em múltiplas frentes correndo ao mesmo tempo, sendo uma delas o incentivo à pesquisa, cujo objetivo é apoiar o desenvolvimento técnico e conhecimento científico relacionado ao impacto das ações de restauração florestal na qualidade de recurso hídrico e no estoque de carbono. Esse apoio acontece pela distribuição de R$114.525,00 em bolsas de pesquisa ao longo de 14 meses. O projeto incentiva, ainda, a realização da pesquisa também com auxílio à aquisição de materiais específicos e análises laboratoriais.

Ao fazer o plantio em áreas onde antes havia florestas e que foram devastadas em razão de ações antrópicas, a restauração florestal proporciona uma série de benefícios para os ecossistemas. Entre as principais vantagens estão a retenção de CO², diminuição das altas temperaturas, recuperação de nascentes, manutenção da biodiversidade e a proteção de bacias hidrográficas.

Projetos como o PAF (RE) Floresta apresentam grande potencial de mitigar tais efeitos, uma vez que as altas taxas de dióxido de carbono atmosférico (CO2) são removidos pelas florestas em recuperação e estocam o carbono sequestrado nos tecidos vegetais em forma de biomassa.

Uma das pesquisas, já em andamento, está sendo desenvolvido no Laboratório de Estudo das Relações Solo-Planta (LSP), coordenado pelo professor Everaldo Zonta, do Departamento de Solos do Instituto de Agronomia da Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Também contará com parceria com a PESAGRO- CEPH, Centro Estadual de Pesquisa em Horticultura, com um membro desta instituição compondo a equipe do projeto, que busca compreender o impacto da restauração florestal no estoque de carbono no solo.

Evento e lançamento de campanha marcam a data neste sábado

Em frentes de atuação pela preservação da Mata Atlântica e também para marcar a data dedicada a este bioma, o Comitê Guandu realiza, neste sábado (27), junto com parceiros, a apresentação dos resultados programa Produtores de Água e Florestas (PAF) na região Sacra Família. Também neste sábado, o Colegiado já coloca no ar em suas redes sociais a primeira ação da Campanha Fiscal de Queimadas 2023, que integra o Plano Associativo de Combate, Prevenção e Mitigação de Incêndios Florestais, do Comitê Guandu.

Para a divulgação dos resultados do PAF Sacra Família, um evento na acontecerá, às 14h30, na Fazenda Santa Rita, uma das atendidas pelo programa, em Mendes, município que junto com Engenheiro Paulo de Frontin e Vassouras recebem desde 2019 o PAF.

Nos três municípios, ao todo, já foram restaurados 50 hectares com o plantio de mais de 47 mil árvores, além de conservar outros 800 hectares. São 40 produtores rurais participantes do programa, todos beneficiados por Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), que somam quase R$ 364 mil.

Já em relação a Campanha Fiscal de Queimadas 2023, além do primeiro vídeo divulgado neste sábado, que traz o relato de Ricardo Nogueira, gestor da Flona Mário Xavier, unidade de conservação, que está localizada no município de Seropédica-RJ, o Comitê fará a divulgação de outras mídias com alertas contra os incêndios florestais.

Com a chegada de um dos períodos mais críticos para a ocorrência de incêndios em vegetações, atrelado também aos festejos dos meses de junho e julho e a soltura criminosa de balões, por exemplo, aumenta o alerta dado pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.

A Campanha Fiscal de Queimadas será um dos destaques do Encontro Ambiental do Comitê Guandu-RJ, no próximo dia 06, aberto a toda população, em comemoração à Semana do Meio Ambiente.

No evento, que vai acontecer no anfiteatro Gustavo Dutra (Gustavão), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e (UFRRJ), a partir das 13h30, haverá uma palestra com o capitão bombeiro militar, Marcus Souza, do 1º Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente, do Corpo de Bombeiros-RJ. Especialista em salvamento em altura e prevenção e combate a incêndio florestal, ele falará principalmente sobre os cuidados para evitar as queimadas